Por que o brasil tem um grande potencial bioeconômico, mas não o utiliza?

Você sabe o que é Bioeconomia? Com certeza, sabe. Mas talvez você não parou para pensar ainda o que ela venha a ser. A bioeconomia é a ciência que estuda os sistemas biológicos e recursos naturais aliados à utilização de novas tecnologias com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis A bioeconomia está presente na produção de vacinas, por exemplo.

Se familiarizou? Estamos vivenciando a pandemia do coronavírus e nunca se falou tanto em vacinas. A bioeconomia faz parte disso, além da produção de enzimas industriais, novas variedades vegetais, biocombustíveis, cosméticos, entre outros.

A bioeconomia emprega novas tecnologias a fim de originar uma ampla diversidade de produtos. Engloba as indústrias de processamento e serviços e relaciona-se ao

desenvolvimento e à produção de fármacos, vacinas, enzimas industriais, novas variedades vegetais e animais, bioplásticos e materiais compósitos, biocombustíveis, produtos químicos de base biológica, cosméticos, alimentos e fibras. Ela envolve vários segmentos industriais e teria tudo para ter forte atuação no Brasil. Mas não é bem isso o que acontece.

É o que você verá a partir de agora na entrevista com o professor Dr. José Roberto Leite, professor associado da Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília. Ele também atua no Núcleo de Pesquisa em Morfologia e Imunologia Aplicada, NuPMIA e falou ao GPI sobre os desafios e privilégios do Brasil em poder implementar de fato uma bioeconomia. Confira:

Dr. José Roberto Leite, professor associado da Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília

O QUÊ DE FATO É BIOECONOMIA?

A bioeconomia vem da área da economia e também já foi conhecida por muitos como biotecnologia, mas vale destacar que não são a mesma coisa, elas estão interligadas, só que a bioeconomia seria um conjunto de soluções comerciais e industriais que vem de produtos ou substâncias químicas vindas da natureza. Enquanto a biotecnologia se trata do produto em si, a bioeconomia é a relação desses produtos com as atividades comerciais e industriais, até chegar nas pessoas.

Um exemplo fácil é o das vacinas. Há um processo onde temos proteínas naturais que podem ser utilizados como prevenção para doenças infecciosas, como o coronavírus, por exemplo.

O BRASIL TEM 20 % DA BIODIVERSIDADE DO PLANETA. TEMOS A FACA E O QUEIJO NA MÃO, CERTO?

Com certeza. No entanto, existe um conceito importante que deve ser considerado. A maioria das pessoas que moram em países mais desenvolvidos e com biodiversidade com pouco potencial de exploração, tomam um susto em como nós não conseguimos aproveitar tão bem nosso potencial em biodiversidade.

O Brasil possui a maior biodiversidade terrestre do mundo, a segunda maior biodiversidade marinha e a maior biodiversidade terrestre, são mil espécies de plantas, porém se contam nos dedos as exploradas. O primeiro medicamento feito a partir da biodiversidade, no Brasil, foi a pilocarpina, extraída do jaborandi, usada no tratamento de glaucoma. Porém, nós, no Brasil, até hoje extraímos o ativo, exportamos o ativo e compramos o medicamento.

O QUE FALTA PARA QUE ISSO NÃO OCORRA MAIS, NO BRASIL?

Existe um abismo entre ter o potencial e gerar a riqueza. No Brasil, temos o potencial, mas erramos no meio, no modus operandi. Está na cultura do brasileiro o imediatismo. Essa velocidade alta, associada a uma desorganização não permite que as cadeias produtivas se alinhem de forma a maximizar o ganho que se pode ter.

A Europa tem o potencial bioeconômico muito baixo, mas tem um faturamento anual de cerca de 3 trilhões de dólares anuais com bioeconomia, o que corresponde ao PIB da França, a sétima economia mundial. Imagina o que poderia ser feito no Brasil. Mas precisaríamos melhorar em três fatores para mudar essa realidade.

QUAIS SERIAM ESSES FATORES?

O primeiro deles é o regulatório, que depende do governo. Por exemplo, Anvisa, Ibama, Meio ambiente, leis de propriedade intelectual precisam se tornar mais ágeis e eficientes para atrair investidores e incentivar as empresas e pesquisadores. No Brasil, uma patente demora em média entre quatro e nove anos. Isso é muito tempo.

O segundo ponto é a inovação. Precisamos realizar a inovação casada, ou seja, a pesquisa científica trabalhando em paralelo com a indústria, principalmente os doutores das universidades na indústria precisam de financiamento tanto privado como governamental na relação para que a pesquisa saia mais rápido da universidade e vá para a indústria. Para isso, não adianta a indústria querer pagar pouco para pessoas que são gênios, doutores, que são diferenciados.

O terceiro ponto é investimentos. Não é o mais importante. O mais importante é mudar a cultura. Se temos um regulatório ágil e a união da indústria e academia de fato, o terceiro ponto é investir. A universidade de Porto tem mais de 300 empresas dentro da universidade, por exemplo. Nós só precisamos copiar e adaptar os modelos de sucesso existentes no mundo.

A BIOECONOMIA TRAZ TANTAS VANTAGENS PARA O PAÍS E AINDA ASSIM É DEIXADA DE LADO.

Totalmente. Existem boas políticas públicas de governo no Brasil, mas para mudar de fato essa situação, é necessário ter políticas de Estado, pois os governos mudam a cada quatro anos. O Estado brasileiro é desorganizado.

Estamos já há dois anos numa pandemia e uma das vacinas, a Pfizer, tem substâncias e conservantes e um dos conservantes é obtido a partir do tubarão. Já foram sacrificados 14 mil tubarões para produzir a vacina. O Brasil, tendo várias espécies de plantas potenciais para produzir antioxidantes, não poderia ter uma cadeia produtiva de fornecer antioxidantes para a produção dessa vacina, por exemplo? Nós temos antioxidantes naturais na goiaba vermelha, no açaí, no bacuri.

VOCÊ ACREDITA QUE SERIA POSSÍVEL MUDARMOS ESSA REALIDADE E AVANÇARMOS NA BIOECONOMIA, NO BRASIL?

Sim, sou otimista. A grande luz no fim do túnel é que a academia tem que fazer sua parte, se unir e pressionar de forma inteligente o governo na questão do regulatório. Esse é o ponto inicial. A partir daí, tudo dará certo.

No vídeo abaixo, assista a entrevista na íntegra sobre “Por que o brasil tem um grande potencial bioeconômico, mas não o utiliza?” Por Nehemias Lima – Jornalista.

COMPARTILHE ESSE POST:

WhatsApp
Facebook
Twitter
Telegram
LinkedIn

Conheça algumas Pós-graduações disponíveis no GPI

Hematologia Laboratorial

Citologia Clínica

Psiquiatria

Medicina do Trabalho